
WHO GIVES A SHIT ABOUT LITERATURE...? NINGUÉM!
Há uns anos atrás, um dos nossos poetas, deputado e tradutor, escrevia (creio que no JL) que os alunos portugueses deveriam seguir o exemplo dos seus colegas franceses e aprenderem, de cor, uma qualquer "Chanson de Roland". Que mais valia isso do que não conhecer nada. Na altura, indignei-me por escrito, etc, etc.
Hoje, ao ver que os alunos do 11º ano ainda são atormentados com o Frei Luis de Sousa, lembrei-me dele. 99,9% odeiam (passam a odiar) esta peça, e muito menos de metade perceberá sobre que diabo se debruçou, mil anos atrás, GarretT. Parece que já são poupados às Viagens Na Minha Terra, os sortudos.
Quando se olha as obras escolhidas para estes milhares de adolescentes, para os interessar pela Literatura, temos vontade de dar um tiro na cabeça, tal a confusão que a coisa nos gera. A pergunta que se coloca não tem a ver com o valor das referidas obras literárias (e mesmo isso, poderia ser questionado...), mas o interesse em chagar a cabeça a esta gente, misturando neste esforço inútil as palavas "Literatura" e "prazer". Aparentememnte, o povo do Ministério que aprova este continuado dislate, acha que basta aos estudantes "terem ouvido falar de Camões, Almeida Garrett ou Cesário Verde. Não interessa se eles querem ler mais alguma coisa destes e muito menos se o pouco gosto pela leitura fica comprometido para sempre.
Como sabem, não tenho pena nenhuma do esforço estudantil. Pelo contrário, acho que até é pouco. O que não acho é que deva ser inútil. Ao serviço de nada. Ou pior, utilizado para os levar a confundir "seca brutal" com "desenvolvimento pela leitura".
Como é que se pode pedir a este gente que aprenda a cozinhar pastelaria fina quando não se sabe estrelar um ovo, ou sequer que eles saem do cu das galinhas?
Não seria melhor trabalhar obras contemporâneas, com incursões nos clássicos, de maneira a criar primeiro a vontade de ler e depois a obrigação de se cultivar?
O mesmo princípio se aplica ao ensino da Filosofia. As boas intenções estão lá, o problema é a abordagem e as linguagens utilizadas. Um horror e um desperdício de tempo de professores, alunos e dinheiros públicos e privados.
3 comentários:
Mais do que concordar plenamente com o texto escrito, é tentarmos perceber porque não se mudam essas e outras coisas e se estabiliza o ensino, que depende de todos e não apenas dos alunos e/ou dos professores.
BS
Estudar literatura nas aulas é como dissecar cadáveres. Para essa função mais vale estragar livros intragáveis por si só, (como as "Viagens na minha terra", ou o abominável "Os Pescadores" de Raúl Brandão). Não é a meio do liceu que se incute o gosto pela leitura a ninguém.
O prazer do livro é um prazer egoísta e o acto de ler extremamente anti-social. Tentar fomentar tal coisa só pode dar maus resultados.
Sim, há um problema grave de conteúdo dos programas e na abordagem às obras, mas não me parece que seja impossível incutir o prazer pela leitura no ensino secundário.
Eu bem que tive de aturar o terror das Viagens na minha Terra, mas meses depois seguiram-se os Maias - que se revelaram uma delícia. A minha sorte foi uma professora entusiasta que fomentava um debate e análise para além do programa durante as aulas.
Claro que já na altura eu me perguntava - e levantei a questão nas aulas - porque é que não se lê nada de contemporâneo, porque estes pincéis que nos fazem odiar o pegar num livro?
Os programas são bafientos, mas cabe aos professores conseguir dar-lhes a volta. Um bom professor faz o seu trabalho e passa a paixão a quem lá estiver com ouvidos de ouvir. Há é poucos desses, não admira.
O certo é que a dita professora (pena que não me recorde do nome dela) me recomendou outras leituras e daí em diante não parei de ler. Encontrei-a na FIL um par de anos depois e tive a oportunidade de lhe dizer que ela tinha conseguido, que por causa dela eu agora devorava livros e não conseguia parar. Ela ficou radiante.
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